INTRODUÇÃO
Na série em que propusemos
apresentar os partidos políticos temáticos, ou fundados em função de temas
específicos, como o direito das mulheres, dos animais – agora apresentamos os
organizados em função do direito dos pensionistas ou aposentados. Vemos que essa
temática é mundial, já que os países não conseguem assegurar direitos equânimes
ou justos aos seus pensionistas, sejam servidores ou advindos da iniciativa
privada. A questão levou a sociedade civil a organizar grupos de pressão bem
sucedidos ou legítimos, como associações ou federações de aposentados ou
pensionistas. Era natural que algumas se organizassem como grupos eleitorais ou
partidos políticos.
OS PARTIDOS DE PENSIONISTAS, IDOSOS OU APOSENTADOS
O primeiro Partido de
Pensionistas registrado é o italiano Federação Italiana dos Pensionistas
Unidos, organizado em 1987, oriundo das associações de pensionistas organizadas
por todo o pais, que em 2006 fundiu-se com o movimento de Pensionistas. É de
centro-direita, e participa das coalizões de Silvio Berlusconi, sem muito
sucesso eleitoral. Melhor sucesso teve o
Partido dos Pensionistas, organizado também em 1987, e com votações sempre
inferiores a 1%, até estabelecer uma coalizão com o Forza Italia, de
Berlusconi, e conquistar uma cadeira para seu secretário geral Carlo Fatuzzo,
um político de centro, que conseguiu também ser deputado pelo partido nos
pleitos europeus de 1999 e 2004.
O curioso é que o Brasil, após a
redemocratização e a volta ao pluripartidarismo, no mesmo ano de 1987, embalado
pelo sucesso da organização de associações de aposentados no pais, durante os
anos 80, tenha conhecido um Partido Nacional de Aposentados, e uma dissidência,
o PNAB (Partido Nacional de Aposentados do Brasil), e que disputaram apenas um
pleito municipal em 1988. Em 1995, foi organizado por Osmar Lins, o Partido dos
Aposentados da Nação (PAN), que disputou todos os pleitos entre 1996 e 2004,
com resultados discretos, até 2006, quando chegou a eleger 4 deputados
federais. No ano seguinte, foi incorporado ao PTB.
Diferentemente de outros
congêneres, estes partidos não nasceram do movimento organizado da sociedade
civil brasileira, como as federações de aposentados, que surgiram mais ou menos
na mesma época, e com algum sucesso. Na
verdade, o país implementou uma agenda de políticas públicas para os idosos,
com o advento do Estatuto do Idoso, de 2003, e a criação de vários órgãos em
nível municipal e estadual para implementar ações em favor dos idosos. Em 2011,
e em 2014 houve uma tentativa de se organizar o PAI – Partido dos Pensionistas,
Aposentados e Idosos, sem contudo conquistar-se o registro junto ao TSE – em
2017, parte do grupo se juntou ao Partido Pátria Livre (PPL).
Foto: imagem de propaganda de manifestação de aposentados do PURP portugues
Na Europa, curiosamente, os partidos
temáticos de pensionistas mais em sucedidos eleitoralmente, vem de países
oriundos da divisão da antiga Iugoslávia. De 1996, temos o Partido Croata dos
Pensionistas (HSU), que obteve 4 cadeiras no parlamento em 2003, com 4,1% dos
votos, mantendo 4,1% no pleito seguinte, em 2007, embora elegendo apenas um
deputado. Em 2015, ainda ativo, elegeu 1 deputado em coalizão, e com menos
força eleitoral, ainda encontra-se em atividade no parlamento, quase como um
grupo de pressão no tema dos idosos e pensionistas, muito prejudicados no país,
após o desmonte do Estado iugoslavo. O HSU teve um competidor no Partido da
Solidariedade Intergeracional, um partido de idosos, que ganhou uma cadeira em
2016, sendo incorporado por outra legenda no ano seguinte, e no Bloco dos
Pensionistas Unidos, de efêmera duração.
Outro ex-estado oriundo da antiga
Iugoslávia também tem um partido de pensionistas bem sucedido: é o Partido
Democrático dos Pensionistas da Eslovênia, organizado em 1991, um dos primeiros
no gênero, e que tem mantido força eleitoral. O DeSUS, assim conhecido, pelo
seu acrônimo, vem mantendo representação no parlamento ininterruptamente desde
1992, tendo chegado a 10 deputados em 2014 (num parlamento de 90, com pouco
mais de 10% dos votos), aos atuais 5 deputados e 4,9% dos votos no pleito deste
ano (2018). Os partidos da Eslovênia e da Croácia são europeístas,
social-liberais e tem como projeto principal o direito dos pensionistas, e em
segundo plano, dos idosos.
Na Bósnia, o Partido Unido dos
Pensionistas (PUP, ou PSRS), centrista, criado para defender o interesse dos
pensionistas sérvio-bósnios, manteve-se ativo nos pleitos de 2010, quando
ganhou 4 cadeiras no parlamento da República Servia da Bósnia, e 2014, em
coalizão com o Partido Socialista e os Radicais.
Destacamos ainda como bem
sucedido, na Europa Ocidental, o 50Plus holandês, que vem colhendo bons
resultados, elegendo 2 cadeiras em 2012, e agora 4 (3,1% dos votos) em 2017. O
Partido foi organizado para representar os interesses de pensionistas, é
populista, ligeiramente eurocético e mantem representação em assembleias
provinciais e em vários conselhos municipais do pais. Antes, o pais teve outro
partido de igual proposta, o 55+, que esteve ativo entre 1994 e 1998, mantendo
um representante no parlamento holandês.
Com desempenho razoável, obteve
outro partido oriundo da URSS, hoje Federação Russa, com grande número de
idosos e pensionistas estatais. O RPP (Partido Russo dos Pensionistas pela
Justiça Social), é ativo desde 1997 (como Partido dos Pensionistas, até 2001),
mas registrado desde 2002 (como Partido Russo dos Pensionistas), obteve representação
em 1999 e 2003 na Duma Estatal (Parlamento Federal), com um deputado, e
variando entre 1,7 a 2% dos votos. Após,
somente conseguiu resultados discretos, e recorreu a fusões eleitorais. A
formatação e o nome atual vem desde 2017, e o partido atualmente tem 8 cadeiras
em parlamentos regionais na Federação Russa, e não obteve mais cadeiras na
Duma, embora tenha novamente conseguido 1,7% dos votos no pleito de 2016.
Outro ex estado socialista do
leste viu seu movimento de pensionistas transformar-se em partido, na Republica
Tcheca, com a organização, em 1992, do Partido dos Pensionistas pela Segurança
da Vida (HDZS), que obteve no mesmo ano 3,77% dos votos nas eleições
parlamentares, sem conquistar cadeiras no pleito, manteve 3% dos votos nas
eleições seguintes, até minguar para 0,86% dos votos em 2002, e fundir-se com
outro partido de orientação social-democrata, os Democratas Independentes.
No restante da Europa, os
resultados nos partidos temáticos de aposentados, idosos ou pensionistas não se
alcançou as mesmas marcas, senão vejamos:
Já seu congênere alemão, o
Partido dos Cinzas (Die Grauen, os cinzas, ou Grauen Panther, panteras cinzas)
teve como mote "Combate à pobreza" e "reformas" –na
campanha eleitoral alemã. A meta é clara: chegar ao Bundestag. Algo que, do
ponto de vista da contagem de votos, não seria problemático, afinal, vivem hoje
na Alemanha mais de 20 milhões de aposentados – um número com tendência
crescente. até agora, desde que foi fundado, em 1989, o partido nunca conseguiu
mandato no Parlamento. Para tornar-se mais atrativo, o Partido se autoproclama
“O Partido das Gerações”, após uma fusão em 2012, com um partido com iguais
propostas; Em 2017 obteve apenas 0,05%
para o parlamento, com pouco mais de 11 mil votos. Melhor sorte obteve o
Partido dos Aposentados (RENTNER), que foi ativo entre 2002 e 2016, que chegou
a obter 0,8% dos votos no pleito de 2009 para o parlamento europeu.
A Suécia conta com um partido
mais amplo, o Partido do interesse dos Cidadãos Idosos, que também abrange a
defesa dos aposentados, com resultados modestos, assim como na Noruega, que
conta com um partido dos pensionistas ativo eleitoralmente desde 1985, variando
entre 0,3% e 0,4%, com o melhor resultado (1%) colhido em 1993, mas conta com
alguns representantes em conselhos municipais. Já os Pensionistas Ativos, da
Dinamarca, organizados em 1997, mantiveram-se em atividade eleitoral apenas nos
pleitos municipais de 2001, e 2005, depois dissolveram-se. Os partidos
nórdicos, diferente dos seus congêneres do centro e leste europeu, são de matiz
conservador. O Partido dos Pensionistas belga (PP), porem, é considerado uma
agremiação de extrema-direita, com alguns representantes locais; outra
agremiação congênere, o WOW, ativo entre 1993-2000, também era extremista, e
foi absorvido pelo Bloco Flamengo e alguns pelos Liberais de direita locais.
Nos demais países, podemos citar
agremiações politicas de expressão mínima, como na Argentina (Partido Blanco de
Los Jubilados); ou as três agremiações australianas, o Partido Unido dos Idosos
da Australia (SUPA), e o GreyPower Party, e sua dissidência, o GreyPower
Australia;
As politicas publicas de idosos
tem sido reclamadas em vários países, mas vimos que em poucos, nasceram
agremiações para apenas defender essa faixa etária, tematicamente; quando o
fizeram, o resultado eleitoral foi diminuto. Os países que tiveram temática com
mais apelo, como a de aposentados e pensionistas, com direitos atingidos ou
reduzidos, redundou numa melhor mobilização e organização politico-eleitoral,
como vimos. Em outros países, como no Brasil, as organizações
temático-eleitorais não tiveram tanto sucesso, como as organizações da
sociedade civil – federações e associações de aposentados, tiveram.
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