A Polarização Eleitoral no Brasil não é novidade. No Império eram os Conservadores contra Liberais, e no Brasil democrático pós-45, a Guanabara vivenciou a polarização eletrizante entre a UDN Lacerdista e o PTB getulista. Mais recente, o país vivenciou Tucanos e Petistas se digladiando, desde a Cidade de São Paulo até atingir todo o Brasil, até chegarmos na atual luta eleitoral e ideológica entre a Direita Bolsonarista e a Esquerda Petista.
O antipetismo, como vimos, que já era forte desde 1989, e durante os útimos 30 anos, se fortaleceu ainda mais com a crise econômica que irrompeu durante o segundo período do Governo de Dilma Roussef, e os processos do "mensalão", e posteriormente, da "Lava Jato". O PSDB, já imerso em outros escândalos, e combalido com a convivência próxima e íntima com alguns próceres do chamado "Centrão", não se firmou como alternativa, fazendo com que o Bolsonarismo tomasse corpo e se consolidasse em uma parcela da população.
Ocorre que ao longo dos dois primeiros anos de mandato do Presidente Jair Bolsonaro, este vem perdendo parte do eleitorado original, que possibilitou chegar aos 43% dos votos no primeiro turno: conservadores moderados, liberais, dissidentes direitistas, mas vem consolidando pelo menos um terço do eleitorado nacional lastreado no seu eleitorado mais fiel, e trazendo para si a fidelidade que só a caneta do Presidente pode proporcionar, ao confluir com apoios no velho "Centrão" (políticos sem fidelidade ideológica, aliados ao poder, muitos de moral duvidosa), antes refutado pelo atual presidente.
Como bem disse o cientista político Carlos Melo, em recente artigo, a característica personalista do populismo de direita, em contraposição ao ex Presidente Lula exige dos atores protagonistas uma "excitação constante", que inexoravelmente leva à fadiga. O antipetismo e o antibolsonarismo - agora existente - impulsionam forças que porem não se misturam,
Os candidatos que não são um nem outro, com exceção dos que perfazem a liderança do chamado "Centrão", podem se beneficiar deste fenômeno de repulsa aos dois pólos, e podem fazer confluir boa parte dos que ficaram de fora da polarização. A velha lógica do "Centro Político" (Centro que não se confunda com o bloco governista), ou do "Centro Democrático" pode se reconstituir em alternativa válida, ainda mais se aliar-se aos refratárias da esquerda moderada que rejeite o petismo,
Ademais, a polarização tende a ser diminuída nas eleições municipais, conquanto se diminua o esforço de ideologizar qualquer debate, diluído pela necessidade racional de se discutirem-se problemas cotidianos no pleito local, que reclama soluções para a saúde pública, a mobilidade urbana, o saneamento, o ensino fundamental e outras questões do dia-a-dia das cidades brasileiras.
Na discussão da qualidade de vida das cidades brasileiras, em crise, após a pandemia e o irromper de nova crise econômica, com altos índices de desemprego reclamam soluções práticas, propostas claras, e sobretudo, competência técnica, para o enfrentamento destes temas. Os arroubos e palavras de ordem (tanto da esquerda e direita mais militantes) certamente não solucionarão a falta de tratamento do esgoto, e os buracos da rua.
Aliás, a pauta do saneamento, hídrica e ambiental quando salientes em Cidades como o Rio de Janeiro, podem colaborar mais ainda, para enfraquecer a importância de buscar ações e proposições de governança e iniciativa técnica, distante do apelo moralista ou de se ter que derrotar um adversário ideológico. Já verificamos isso recentemente em Cidades como Budapest, Paris, ou mesmo Bogotá.
A nova prefeita de Bogotá desde o início de 2020, Claudia López, da Alianza Verde, derrotou o governista Centro Democrático (apesar do nome, um partido de direita, do ex presidente Uribe), contrariando todas as previsões. Parte de sua explicação pelo êxito eleitoral vem do seguinte:
"(..) Essa cidade estava decidida a não aceitar o status quo, a desigualdade e a insustentabilidade como fatores com os quais se deve viver e aceitar. Os jovens, principalmente, estavam decididos a não aceitá-lo. Isso não me parece um problema, acho ótimo. Eu sou um dos manifestantes e isso continua, mas com fatores que o aprofundam: menos crescimento, mais desemprego e mais pobreza.
O outro são as ofertas políticas para canalizar esse desencanto. Eu diria que existirão dois tipos: os piromaníacos e os jardineiros. E serão de esquerda e de direita, não é um problema ideológico. Os piromaníacos vão dizer que é o momento de derrubar o sistema. E os jardineiros que é o momento de nos unirmos, de ação coletiva, de resgatar o que funciona, de pragmatismo, de convocar. Os dois vão produzir mudanças profundas, mas por vias e custos bem diferentes. Meu esforço, e o dos que estão no centro, é para ser jardineiros. (..)"
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