O fenômeno político religioso nos leva inicialmente a destacar o processo da organização de um grupo sectário religioso - como o da Igreja Universal do Reino de Deus, para disputar o poder político-eleitoral no Brasil, inicialmente, concentrando votos e elegendo candidatos em eleições multiníveis no país, para depois, curiosamente, concentrar seus representantes (deputados, senadores e vereadores) em apenas uma legenda partidária, curiosamente chamada de "Republicanos", que protestava sua laicidade no momento de sua organização como PMC (com coleta de assinaturas nas IURDs de todo o país), depois PRB, em trabalho coordenado pelo hábil deputado Bispo Rodrigues, então no PL.
O "case" de sucesso da IURD levou outras denominações neopentecostais a copiar o modelo, em escala menor ou inicial, como a sua dissidente - a Igreja Mundial do Poder de Deus, do Bispo Waldomiro, que elegeu deputados estaduais, alguns federais e passou tambem a disputar o poder municipal, entre outras, sem o mesmo destaque ou tamanho.
Na verdade, a intervenção religiosa em um partido político não é nova na República Brasileira, mas tem raízes na Liga Eleitoral Católica (LEC), nos pleitos da Constituinte de 1933, e do ano seguinte, e mais tarde, do Partido Democrata Cristão (PDC), criado em 1945, tentando repetir o sucesso do congênere italiano ou chileno, para unificar os católicos, contra a ameaça comunista, disputando a preferência de parte do eleitorado rural, entre outros. O PDC brasileiro teve desempenho mediano, mas nos anos 60 já passava a experimentar algum crescimento.
O crescimento evangélico no Brasil, sobretudo pentecostal, levou boa parte deste eleitorado a dar destaque às pautas morais, de matiz conservador, e tentou se organizar sem muito resultado, no novo PDC nos anos 80, mas acabou pulverizado entre dezenas de legendas. Essa unidade apareceu mais fortemente na eleição de 2018, com a ascensão de Bolsonaro. Até então, a maior parte deste eleitorado era nitidamente governista, e oscilava de acordo com o câmbio de poder, de uma forma bem pragmática, da direita à esquerda.
A intervenção evangélica fundamentalista não é exclusiva no Brasil, mas foi sentida mais fortemente no Chile, Guatemala, Costa Rica, assim como atua fortemente no Partido Republicano dos Estados Unidos, e mais recentemente, na Bolívia.
Os católicos da Europa se organizaram em parte no início do Século XX na Europa, em partidos católicos (França, Bélgica, Holanda) ou no Zentrum (Centro) alemão, ou o Partido Popular italiano, que mais tarde se aglutinou no movimento mundial da Democracia Cristã, de matriz centrista, ou de centro-direita, ou levemente conservador, que se espraiou na ainda muito católica América Latina, exatamente para se contrapor aos Partidos operários de inspiração Socialista ou aos Comunistas, antes e depois do pós-guerra.
Na França, a tensão entre os Republicanos (seculares) e os Católicos, representados por monarquistas, ou conservadores atravessou a Revolução Francesa, até a 2a Guerra Mundial, chegando aos anos 60, após o declínio do democristão MRP.
No pós-Guerra italiano, até o Vaticano se envolveu nos primeiros pleitos para fidelizar o eleitorado católico à Democracia Cristã, para derrotar o poderoso PC Italiano, o maior partido comunista do Ocidente por um bom tempo. A DC italiana comandou o país de 1945 até o final dos anos 80, tragada por escândalos de corrupção. O CDU/CSU alemão comanda a Alemanha há mais de dez anos, e se alterna no poder com os social democratas há mais de 70 anos.
O clero católico prestigiou o PDC de um modo geral na América Latina e alguns países europeus, mas a partir dos anos 90, esse link não é tão fortalecido, e a DC europeia converteu-se no Partido Popular Europeu, mais abrangente, de Centro, com laços religiosos cada vez mais distantes das origens como um "partido da sacristia".
Outro exemplo pungente da intervenção de partidos políticos de caráter religioso é o de Israel, onde, com o enfraquecimento do Partido Trabalhista e da esquerda laica no país, o peso dos religiosos judeus foi cada vez maior, e responsável pela longevidade do poder do direitista Likud no país, que cede às suas pautas. A política israelense sempre teve partidos religiosos relevantes, como o PNR (Partido Nacional Religioso), nos anos 60 e 70, mas atualmente, o Shas (haredi sefardita) e a coalizão conservadora Judaísmo Unido do Torah, possuía, em 2020, 16 das 120 cadeiras do parlamento (Knesset). Conservadores, sua pauta tambem se fundamenta em costumes, na legislação civil, e privilégios para crentes e preceitos religiosos.
Não nos esqueçamos que em Israel, a grande maior parte do eleitorado árabe vote em partidos de esquerda, e listas seculares, há o Movimento Islâmico, com pelo menos 3 cadeiras no Knesset em 2020. tem posições moderadas, mas seu apelo político-eleitoral tem viés essencialmente religioso.
Afinal, os budistas tambem se organizaram em partidos políticos em alguns países da Ásia, sendo os destaques o influente Novo Komeito (Governo Limpo) no Japão, direitista e aliado dos Liberais Democratas (PLD), ou ainda o Partido Liberal, no Camboja. No Sri Lanka, os budistas se organizaram para protestar contra conversões forçadas por parte de fundamentalistas cristãos, e na Tailândia, os religiosos budistas fundaram um partido (Phalang Dharma) que tem força local em Bangkok.
Mas onde os partidos religiosos foram mais bem sucedidos eleitoralmente, e tem maior influência é nos países islâmicos. Tanto xiítas como sunitas organizaram partidos religiosos de grande apelo popular e eleitoral: a Irmandade Muçulmana se organizou e chegou ao poder no Egito, em 2011. Naquele pleito, o Partido da Liberdade e Justiça capturou 36,6% dos votos, e elegeu o presidente, depois derrubado pelos militares unidos à uma grande corrente secular. Em 2011, os salafitas do Al Nour obtiveram 24,4%, e os islamitas moderados do Al Wasat (Centro), 4,3%.
Aliás, a Irmandade Muçulmana tem partidos congêneres na Síria, Jordânia, Iemen, Turquia, e dezenas de países árabes. Tambem esteve no poder, durante breve tempo, com o Enahda, na Tunísia, após a Primavera Árabe. Mas tem estado no poder na Turquia, e no Sudão.
A Turquia sempre baniu os religiosos da política, mas finalmente cederam ao Partido da Justiça e Desenvolvimento (PJD), do presidente Erdogan, que após dar estabilidade econômica e emprego ao país, começou a implementar uma agenda moderadamente religiosa. Domina a política nacional com mão-de-ferro há mais de uma década. Tem sido bem sucedido eleitoralmente.
O exemplo do PJD turco inspiraram o Ehnadda tunisino, e o PJD marroquino, ambos vivenciando breves governos, ambos refutados pelo laicismo, e pela esquerda árabe.
Há tambem partidos que representam os xiítas, sobretudo onde são minoria, como nas monarquias do Golfo Pérsico, sendo o mais famoso o combatente Hezbollah libanês, ou a moderada Amal, de Nabih Berri. No Irã, como sabemos, capturaram o poder, após a queda da ditadura Pahlevi, em 1979.
Já que citamos o Hezbollah, os partidos confessionais não são exclusividade dos xiítas no Líbano; infelizmente, a maior parte se organiza pelo vértice religioso: os drusos se unem no Partido Socialista Progressista (PSP), os cristãos no Partido Falangista, ou nas Forças Libanesas, e os sunitas, em boa parte no movimento Futuro, do Premier Hariri. O país montou seu sistema político dividindo as cadeiras por eleitorado religioso, em um sistema político dominado pela inércia e corrupção. Há partidos seculares, mas tem expressão limitada, como os comunistas, o Baath, e partidos liberais.
No Líbano, o Governo e a política seguem à divisões confessionais: o presidente sempre é um cristão maronita, o premier, sunita, o presidente do parlamento, um xiíta. Os jovens já reclamam outro sistema para o país, observado desde 1943.
Na Índia, a intervenção religiosa tem sido danosa à uma das maiores democracias do mundo. Antes o poder era disputado entre forças da esquerda e o velho Congresso Nacional, de Nehru e Indira Gandhi; agora é dominado amplamente pelo BJP, o Partido Popular Indiano, nacionalista hindu, que tem aplicado uma pauta da maioria religiosa hindu como nunca dantes visto no país. É descrito como um populismo religioso, como vemos agora no Brasil.
Os religiosos islamitas tem lutado pleito a pleito, com forças liberais seculares ou da esquerda nacionalista, ou com partidos conservadores ligados aos militares em dezenas de países árabes, causando uma tensão ainda não resolvida. Um exemplo clássico é a disputa que dividiu a Palestina entre Gaza, dominada pelos religiosos do Hamas, e a Cisjordânia, ainda dominada pela secular e esquerdista Fatah, de Arafat, e Abbas, em um conflito político, eleitoral e militar ainda inconcluso.
No mundo, a tensão criada pela ascensão de partidos religiosos atinge o mundo todo, gerando apreensão em setores liberais, de esquerda, ou seculares, não importando a matriz religiosa, como vimos (islâmica, cristã, ou hindu), trazendo os mesmos conflitos com a tentativa de imposição de valores religiosos ou morais a qualquer país. Vejo com apreensão, a evolução do fenômeno no Brasil, com a atuação neopentecostal que captura as mídias com a compra de emissoras de rádio e televisão, a participação eleitoral de seus representantes e a participação em governos locais, estaduais e no governo federal, sempre impondo sua agenda própria.
O problema é que tal fenômeno é sem dúvida, um dos fatores de corrosão da Democracia, seja onde for. É algo a ser estudado e focado pelos maiores dirigentes políticos, em crescimento desde o fim da Guerra Fria, já que o ideal religioso tem conquistado os corações, com a decadência das Velhas certezas e das Ideologias do Século XX.
O Cristianismo é arbítrio,liberdade religiosa dos que se assim se sentem bem. Eu sou cristão e coloco em prática tais ensinamentos. Sou amplamente favorável à instituição familiar, contra o aborto e contra as drogas. Sabemos que o mundo atual está perdido nas ondas consideradas "progressistas" ou comunistas, um desastre total para os que abraçam a ética familiar. Sinto-me orgulhoso de assim ser. Sou defensor dos animais, ministrante de palestras educativas nas escolas sobre o alusivo assunto. Todavia, em virtude da pandemia que assola o mundo, estou impossibilitado de dar continuidade ao meu cristão trabalho na defesa da fauna em amplo espectro. Sou cristão e toda minha família é feliz. NÃO existe raiva, nem rancor em nossos lares. O Cristianismo é a nossa barreira contra o mal. Graças a Deus, Gilberto Pinheiro/jornalista
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