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"DEUS, PÁTRIA E FAMÍLIA" - SAIBA MAIS SOBRE UM SLOGAN DE QUASE 100 ANOS...

O slogan preferido do atual presidente Jair Bolsonaro, "Deus, Pátria e Família", depois ligeiramente mudado para "Deus, Pátria, Família e Liberdade", tem origem quase centenária no jogo político brasileiro, e mesmo utilização internacional, senão vejamos: o antigo 1o ministro português, o virtual ditador luso Antonio Salazar utilizou-se da expressão, proferida a partir de 1936, em Braga, e que passou a fazer parte das suas campanhas "cívicas". 

O fato é que o slogan foi apropriado e largamente utilizado nos comícios da brasileira Ação Integralista Brasileira (A.I.B.) liderada pelo escritor e jornalista Plínio Salgado, constando de suas publicações, faixas, cartazes, e comunicados, que, aliás, no mesmo ano (1936) eram quase 1 milhão de adeptos. Logo após o golpe do Estado Novo, que interrompeu o pleito presidencial em marcha, e a própria candidatura de Plínio Salgada, e da tentativa de assassinar Vargas, a AIB entrou na ilegalidade, e foi desbandada. Nada demais lembrar que em 1938, Salgado exilou-se em Portugal, governado por Salazar.

No manifesto integralista de  outubro de1932, a expressão já aparecia; Dividido em dez partes, o manifesto trazia já em seu primeiro item a importância da valorização de Deus, da Pátria e da Família – os três termos com inicial maiúscula.

No pós-Segunda Guerra, após a derrota da Alemanha nazista e da Italia de Mussolini, um partido fascista não teria sucesso no Brasil. Então eles formam o PRP (Partido de Representação Popular), com formação fascista, com grupos fascistas, mas sem dizer que era fascista. Foi um fascismo legalizado, mas no discurso se dizia democracia cristã", relata Gonçalves. Pela legenda, Salgado candidatou-se à presidência em 1955, e obteve quase 8% dos votos. Depois acabaria eleito deputado federal. O idealizador do integralismo foi um dos oradores da famosa Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em 1964, e apoiador do golpe militar que instauraria a ditadura naquele mesmo ano. Na ditadura, Plínio e os integralistas passaram a integrar a governista Arena.  Com a morte de Plínio, o movimento ficou sem referência.


Os poucos e novos integralistas são divididos em vários grupos, e alguns passam a integrar o PTB, e outros direitistas integram o PRTB de Levy Fidelix, e parte da direita nacionalista tenta se agrupar no PRONA de Enéas Carneiro, mas a direita filofascista renasce com Jair Bolsonaro, que inclusive se apropria das cores nacionais (verde e amarelo), e utiliza o mote "Brasil Acima de Tudo, Deus acima de Todos", próximo dos surrados lemas nazistas ("Alemanha Acima de Tudo"), até conseguir ressuscitar o mote "Deus, Pátria e Família", tão presente nos anos 30. 

No bolsonarismo, além do ultranacionalismo, o discurso religioso resgatado - embalado pela ascensão neopentecostal (diversa do catolicismo conservador), uma reutilização de apelo ao anticomunismo, apelo ao armamentismo e lemas fascistas são características que identificamos nos processos eleitorais mais recentes, desde a ascensão de Bolsonaro ao poder, em 2018.  Até mesmo uma característica antiga da extrema direita, que era a de uniformizar os adeptos, foi usada pelos adeptos do presidente, que proibidos por Lei de utilizar uniformes (A Lei dos Partidos, tanto a 5682/71, e a 9504/87 trazem proibição expressa), escolheu por incentivar o uso de uniformes amarelos da seleção brasileira de futebol.


Curioso é que no ultranacionalismo brasileiro, a antiga AIB sempre conseguiu uma adesão multicultural e multirracial, e chegou a recrutar gente como Abdias do Nascimento. O componente racial agora é simplesmente rechaçar a pauta de costumes e identitária defendida por setores da esquerda.  O fato é que não dá pra esconder, na Direita atual bolsonarista, uma inspiração claramente baseada nos movimentos filofascistas e fascistas dos anos 30, no Brasil, e no mundo.


































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